"A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se considerar finda a Monarquia (...) Foi o exército quem operou esta magna transformação"
Jornal do Commércio, 16 de novembro de 1889.
"Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos tão graves e tão imprevistos que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa. Rompeu com o dia um movimento militar que, iniciado por alguns corpos do exército, generalizou-se rapidamente pela pronta adesão de toda a tropa de mar e terra existente na cidade.
A conseqüência imediata desses fatos foi a retirada do ministério de 7 de junho, presidido pelo Sr. Visconde do Ouro Preto, que teve de ceder à intimação feita pelo Sr. Marechal Deodoro da Fonseca que assumiu a direção do movimento militar. À exceção do lastimoso caso do Sr. Barão do Ladário, que não querendo obedecer a uma ordem de prisão que lhe fora intimada, resistiu armado e acabou ferido, nenhum ato de violência contra a propriedade ou a segurança individual se deu até o momento em que escrevemos estas linhas. (...)"
Novidades, 15 de novembro de 1889.
"A população desta cidade foi hoje, ao acordar, sobressaltada pela notícia de graves acontecimentos que se estavam passando no quartel general do exército, em ordem a despertar as mais sérias inquietações (...)
Todo o movimento social da cidade acha-se paralisado. O comércio em grande parte fechou as portas. As ruas mais freqüentadas nos dias ordinários estão desertas; raros transeuntes passam, apressados, como perseguidos. (...) O serviço de bondes é feito com grande irregularidade; há longos intervalos no trânsito dos carros, que chegam aos pontos de estação aos grupos de cinco e seis. (...) O pânico anda no ar e nas consciências. (...)"
Cidade do Rio, 15 de novembro de 1889.
"A população fluminense despertou hoje com a notícia de que se havia o exército recusado a cumprir ordens do governo por julgá-las ilegais e ofensivas ao seu brio. Dois batalhões que haviam recebido ordem de seguir para pontos afastados do Império, decidiram não obedecer esta ordem.
Hoje:
6 horas da manhã - O ministério está reunido na secretaria do império. Estão fechados os quartéis do 7º, do 10º e do Corpo de Bombeiros. desembarca na corte, vindo de Niterói, uma parte do Corpo de Polícia da província. Outra parte da força está na ponte da Armação a espera da lancha que a conduza à corte.
7 horas - Sobe a rua do Ouvidor uma força de fuzileiros navais. Os soldados estão em pé de guerra. Os oficiais trazem revólver.
8 horas - É quase impossível chegar ao Campo de Santana. uma força do 10o está no largo da Lapa para impedir a passagem provável de estudantes da Escola Militar. Das janelas do palacete Itamaraty parte uma descarga sobre o povo.
9 horas - À porta de uma taverna, na esquina da rua são Lourenço está sentado, com um ferimento na fronte, o sr. barão do Ladário, ministro da marinha. O ferido está com um gramete ao lado. (...) Estão fechadas todas as estações de polícia.
9 1/2 - (...) O quartel está fechado. Dentro está o batalhão que não quer, segundo consta, seguir para onde foi removido. O ministério continua reunido.
10 horas - (...) Confirma-se o boato de que o ministério pediu demissão. (...)
10 horas e meia - Os alunos da Escola Militar sem ordem, nem todos fardados, mas armados, tendo à frente uma corneta do 22o seguem para o Campo de Santana, dando vivas à Nação brasileira e ao exército. O ministério que estava preso e guardado pelo exército, rende-se. O general Deodoro entra no quartel em triúnfo, abraçado, entre aclamações entusiasmáticas. O exército dá vivas à República. É o grito que se ouve em todo o Campo de Santana. (...)
10 e 3/4 - O general Deodoro é carregado em triúnfo. O 2o de artilharia dá uma salva de 21 tiros. Povo, exército e marinha dão vivas à Nação brasileira. (...)"
Diário do Commércio, 16 de novembro de 1889.
"O dia de ontem foi de surpresas para a pacífica população industrial desta cidade.
A revolução de ontem é filha unicamente das energias e espírito de classe dos militares, e foram os oficiais superiores que, passando-se para a causa democrática, a tornaram vencedora no momento."
Correio do Povo, 16 de novembro de 1889.
"Cerca de 9 horas da manhã, à intimação do povo e do exército, o gabinete declarou-se demitido, pedindo o senhor Visconde de Ouro Preto ao general Deodoro da Fonseca garantia para a sua pessoa e dos seus colegas. O sr. general respondeu-lhe que o povo e o exército não ofenderiam os cidadãos destituídos do governo e que os ex-ministros podiam se retirar na maior tranqüilidade, como aconteceu.
Ao ser comunicada ao povo e aos militares a queda do ministério, levantaram-se aclamações de todos os lados à República Brasileira e vivas estrepitosos, enquanto o parque de artilharia dava uma salva de 21 tiros, com os canhões Krupp assestados para a secretaria da guerra.
O general Deodoro, o Sr. Quintino Bocayuva e o tenente-coronel Benjamin Constant foram então disputados pelo povo e pelos militares, que os carregavam em verdadeiro triúnfo. (...)
Durante todo o dia e até alta hora da noite o povo percorreu as ruas do centro da cidade, formando diversos grupos precedidos de bandas de música. Expansiva em seu entusiasmo, a população erguia vivas e saudações à imprensa livre, aos bravos do exército e armada, ao general Deodoro, a Quintino Bocayuva e à República Brasileira. (...)"
República Brazileira, 21 de novembro de 1889.
Comecemos de pensar. Esta República que veio assim, no meio do delírio popular, cercada pela bonança esperançosa da paz; esta República no século XIX que surgiu com a precisão dos fenômenos elétricos, sem desorganizar a vida da família, a vida co comércio e a vida da indústria; esta República americana que trouxe o símbolo da paz, que fez-se entre o pasmo e o temor dos monarquistas e a admiração dos sensatos - esta República é um compromisso de honra e um compromisso de sangue. (...)"
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